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Copom deve reduzir velocidade de queda da Selic, preveem analistas
O Banco Central irá tornar a sua política monetária menos agressiva.
Luiz Sérgio Guimarães
O Banco Central irá tornar a sua política monetária menos agressiva. O consenso do mercado é o de que, na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) irá cortar a taxa Selic em 1 ponto percentual, de 11,25% para 10,25%, desacelerando o ritmo de queda uma vez que, no encontro anterior, em março, a redução foi de 1,5 ponto. O consenso, baseado em dados positivos sobre a economia brasileira e o início de uma distensão na crise externa, foi definido há apenas duas semanas. E foi encorajado por declarações de dirigentes do BC. Por isso, dificilmente o Copom tomará decisão diferente. A tendência é de corte de um ponto por unanimidade, a menos que use um placar divergente para sinalizar a intenção de diminuir ainda mais a velocidade de baixa na reunião de junho. O BC só deve manter o ritmo de 1,5 ponto se julgar necessário precaver-se ante a divulgação, na semana que vem, dos resultados oficiais dos testes de estresse aos quais se submeteram os bancos americanos.
A maioria dos analistas consultados pelo Valor rejeita a hipótese de surpresas de última hora e prevê baixa da taxa para 10,25%. Ainda não será desta vez que a Selic descerá a um dígito. O BC iniciou o atual ciclo de flexibilização monetária em 21 de janeiro, dia em que o Copom diminuiu o juro básico de 13,75% para 12,75%. A dose do desaperto foi ampliada no Copom seguinte. No dia 11 de março, a Selic caiu de 12,75% para os atuais 11,25%. E agora o BC deve retornar ao ritmo de janeiro e preparar o mercado para uma redução menor ainda em junho.
O economista-chefe do BES Investimentos, Jankiel Santos, acredita que o BC optará pela baixa de 1 ponto em virtude do "menor senso de urgência" existente em comparação à época da reunião anterior. Se as notícias em março e os resultados divulgados tanto aqui quanto no exterior sugeriam a possibilidade de uma "hecatombe mundial", as informações mais recentes têm demonstrado que o fundo do poço já pode ter sido atingido no exterior e que a atividade econômica doméstica iniciou um processo de recuperação, ainda que gradual. "Apesar das condições econômicas ainda sinalizarem que há espaço para novos cortes de juros, reduziu-se a necessidade de que os movimentos sejam tão emergenciais quanto o adotado na última reunião, ainda mais se levarmos em conta que houve incremento no estímulo fiscal, algo que também ajudará na recuperação da demanda", diz. Sem contar que os efeitos dos cortes realizados até o momento ainda não se materializaram.
Para Marcelo Salomon, economista do Itaú Unibanco, o corte de um ponto se justifica pelo fato de que, embora ainda muito incipientes, os sinais de recuperação da economia já são detectáveis. "O BC deve persistir cortando a Selic até chegar a 8,75%. E depois manterá a taxa neste nível por um longo período de tempo", diz Salomon. A inflação muito baixa este ano e no próximo, aquém do centro da meta, dará confiança para o BC manter a Selic em um dígito.
Especialista em mercados globais, o economista Marcelo Ribeiro, estrategista da Pentágono Asset, considera precoce e arriscada a diminuição da velocidade de queda da Selic. "É prematuro supor que a economia brasileira e global já se encontram em rota de recuperação. Os juros ainda estão muito elevados diante de uma perspectiva de deflação global", observa Ribeiro. Na sua visão, com os preços em queda, mesmo os juros próximos de zero exercem um peso opressivo sobre os devedores. Trata-se do fenômeno descrito nos anos 30 pelo economista Irving Fisher denominou nos anos 30 como "debt-deflation". Para Ribeiro, esse risco ainda não foi afastado. Portanto, os juros elevados podem ser letais para a economia brasileira e mundial.
Luiz Fernando de Paula, professor de economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), acredita que, como o BC tende a ser "muito conservador", deverá reduzir a taxa em apenas um ponto. Para tanto, se aterá à rigidez verificado no declínio da inflação por conta dos preços administrados e à redução do superávit primário das contas públicas para 2,5%. Mas como o cenário mundial é ainda bastante preocupante e incerto, parece mais justificável uma queda de 1,5% na Selic. Até porque o Brasil está hoje muito melhor equipado para enfrentar choques externos. "Note que pela primeira vez nos últimos 25 anos o impacto da crise externa não resulta em desequilíbrio fiscal. Assim, o governo tem instrumentos disponíveis, inclusive os bancos públicos, para atenuar a crise", diz.
Para o vice-chefe do Departamento de Economia da UFPR, João Basilio Pereima Neto, o BC irá manter o ritmo de queda de 1,5 ponto. "Deve fazer isso se quiser ser coerente com o que está sendo revelado pelo relatório Focus, pois o PIB e a produção industrial negativos continuam surpreendendo os formadores de opinião. Só não surpreende os empresários", diz o professor. A questão relevante é saber qual dos dois públicos o BC está atendendo com sua política monetária conservadora. Na opinião do economista, não parece ser os agentes formadores de preços, mas tão somente os formadores de opinião de preços, o que do ponto de vista prático, para efeitos de IPCA, "parece ser inócuo". Para ele, a preocupação com inflação no curto e no médio prazo "é um desatino". Os preços estão caindo vertiginosamente. Somente as expectativas rígidas de preços é que estão segurando a Selic. "Em termos reais, a política monetária não está saindo do lugar", diz.
A melhora evidente do cenário de inflação desde a última reunião do Copom não parece sustentar a hipótese de diminuição da velocidade de queda da Selic, no entender do diretor da Modal Asset, Alexandre Póvoa. As expectativas inflacionárias, tão monitoradas pelo BC, caíram de lá para cá. No caso do IPCA, de 4,51% para 4,22% para 12 meses, de 4,55% para 4,23% em 2009 e de 4,50% para 4,40% em 2010. No caso da inflação implícita nas NTN-Bs (mais baixa, pela incorporação de alguma probabilidade de queda do preço dos combustíveis), desde a última reunião de março, a previsão de 12 meses recuou de 3,98% para 3,75%. "Os dois grandes riscos sempre citados nas atas e relatórios de inflação - o repasse cambial e a persistência inflacionária no setor de serviços - apresentaram mitigação importante nos últimos 45 dias. No campo da inflação, não parece fazer sentido a volta do gradualismo na política monetária", diz Póvoa.
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