Segundo a RFB, mudanças atendem demandas da classe contábil
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Juros vão continuar baixos no ano das eleições
Em todos os modelos traçados pelo BC, mesmo com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo 5% no ano que vem, não haverá pressões sobre a inflação que justifiquem um novo arrocho monetário.
Vicente Nunes Daniel Pereira
Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, afirma, em almoço com Lula, que todos os números atuais indicam uma taxa básica estável em 2010. Palácio do Planalto reage positivamente porque notícia é boa em um período eleitoral
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tiveram ontem um almoço regado a boas notícias. A principal delas, que deixou Lula eufórico, foi a indicação de que não há, pelo menos no horizonte traçado na reunião da semana passada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), qualquer necessidade de aumentar a taxa básica de juros (Selic) ao longo de 2010, quando o governo tentará eleger a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), para o Palácio do Planalto.
Em todos os modelos traçados pelo BC, mesmo com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo 5% no ano que vem, não haverá pressões sobre a inflação que justifiquem um novo arrocho monetário. Na pior das hipóteses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá ficar no centro da meta perseguida pelo BC: 4,5%.
Durante o almoço, segundo assessores do presidente da República, Meirelles assegurou que as preocupações dos analistas com a inflação são exageradas. Para ele, há uma capacidade ociosa ainda grande na indústria, que não sanciona aumento de preços aos consumidores. Além disso, o BC identificou a retomada de boa parte dos investimentos que foram arquivados no auge da crise mundial, pois os empresários perceberam que a retomada do crescimento é para valer. Esses investimentos tenderão a maturar justamente quando a ociosidade atual da produção será zerada.
Outra observação do presidente do BC foi com relação ao mercado de trabalho. Apesar de o desemprego estar em queda e a massa salarial em alta, o consumo não tende a explodir, o que facilitaria reajustes pelo varejo. Foi exatamente isso que o Copom frisou no comunicado divulgado logo após sua reunião, na quarta-feira passada, ao se referir à “ociosidade dos fatores produtivos” como um dos motivos para a manutenção da Selic em 8,75% ao ano.
Também joga a favor da inflação reduzida o dólar abaixo de R$ 1,80. Ainda que esse não seja o desejo de todo o governo, devido ao impacto negativo nas exportações, os custos de produção e de investimentos (máquinas e equipamentos importados) estão muito atrativos. O ponto fora da curva é a economia internacional. Há dúvidas quanto à capacidade de os países desenvolvidos sustentarem a retomada da atividade sem que a inflação volte.
Mas não é somente a Lula que Meirelles assegura a estabilidade dos juros no ano que vem. Em conversas com o primeiro escalão do governo, ele tem dito que são infundadas as previsões de elevação da Selic. E acrescentado que, mais cedo ou mais tarde, no meio da queda de braço com o BC, os agentes de mercado terão de rever suas projeções, de alta de até 3,5 pontos. Seria apenas uma questão de tempo. “Estão fazendo apostas erradas”, repetiu Meirelles nas reuniões. “Fazem apostas erradas e perderão dinheiro”, complementou um ministro com gabinete próximo ao de Lula. No núcleo duro do governo, há consenso de que, se há espaço para mudar os juros, é para baixo. Petistas lotados no Planalto afirmam que o crescimento registrado no próximo ano — de 5% ou mais — será acompanhado da expansão dos investimentos.
Oficialmente, Meirelles disse ao Correio: “Não conversei sobre juros com o presidente nem nessa nem em outras reuniões”.
E eu com isso
A manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 8,75% ao ano até pelo menos o fim de 2010 é uma boa notícia para a economia. Nesse patamar, fica mais fácil para as empresas retomarem os investimentos, criando, com isso, mais empregos. Os consumidores também devem ser favorecidos, porque, fatalmente, os bancos terão que baixar mais as taxas cobradas nos empréstimos e financiamentos, hoje ainda muito elevadas para a realidade do país. No cartão de crédito, por exemplo, os juros chegam a 600% ao ano. (VN e DP)
Inflação prevista sobe um pouco
O cenário benigno traçado pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante almoço ontem no Palácio da Alvorada, contrastou com o aumento das projeções do mercado para a inflação em 2010. Segundo a pesquisa semanal Focus, realizada pelo BC junto a 100 analistas, as estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) saltaram de 4,41% para 4,50%, o centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a segunda semana seguida de aumento. Para 2009, a perspectiva é de que a inflação feche em 4,29%.
A despeito do maior pessimismo do mercado, o economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho, está fechado com o quadro descrito por Meirelles a Lula. “Não vejo nenhum motivo para preocupação com a inflação. Pelas minhas contas, o IPCA do próximo ano ficará em 3,9%, bem abaixo, portanto, do centro da meta, de 4,5%”, afirmou. “Sendo assim, não vejo motivo para aumento dos juros em 2010”, completou.
Opinião semelhante é compartilhada pelo economista-chefe do Banco BES Investimento, Jankiel Santos. “Nem mesmo o mercado de trabalho tende a ser um fator de pressão sobre a inflação. Então, mantemos a nossa estimativa de Selic estável em 2010”, afirmou. Na avaliação de Zeina Latif, economista-chefe do Banco ING, se os juros subirem, a alta será pequena, de 1,5 ponto percentual, com a taxa básica (Selic) passando dos atuais 8,75% para 10,25% ao ano. “Será uma normalização da Selic, e não o resultado de pressões inflacionárias”, ressaltou.
A expectativa dentro do governo é de que Meirelles sinalize a não necessidade de aumento dos juros até o fim de 2010 na palestra que fará hoje a parlamentares do PMDB, partido ao qual se filiou no fim de setembro. No que depender de Meirelles, o evento será marcado somente por notícias positivas: o crédito voltou a patamares de antes de crise mundial, as reservas internacionais estão em níveis recordes, o emprego está bombando e a inflação, próxima do centro da meta.
É tudo o que o PMDB quer, já que indicará o vice na chapa governista à sucessão do presidente Lula encabeçada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O favorito para o posto é o presidente da Câmara, Michel Temer (SP). Petistas e peemedebistas esperam que Meirelles não crie embaraços aos projetos das duas legendas. Inclusive, porque ele mesmo pode ser candidato: ao Senado ou ao governo de Goiás. Pode. Até o fim da semana passada, auxiliares de Lula não garantiam a candidatura de Meirelles. Diziam ser uma tendência, mas não uma certeza. Se ele deixar o comando do BC, provavelmente será sucedido por Alexandre Tombini, atual diretor de Normas.
Lula prefere a solução caseira. Considera-a mais compatível com um cenário de sucessão presidencial e fim de mandato. E menos problemática do que deslocar para o posto o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. "Seria muito trabalhoso a esta altura mexer em dois bancos", afirma um ministro. (VN e DP)
O número
4,5%
Previsão de inflação para 2010, feita por 100 analistas. Está no centro da meta para o ano que vem
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