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Reação no investimento
Produção de máquinas avança e impulsiona a expansão da economia em 2010
Diferentemente do início de 2009, quando a retomada do crescimento se deu nos setores mais voltados ao consumo, dessa vez, o ciclo de expansão em curso tem como vetor o investimento. Levantamento feito pelo Correio em números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a produção de bens de capital, importante indicador para medir o grau futuro de investimento de uma economia, disparou no último trimestre de 2009, com alta acumulada de 11,3%. Foi o maior aumento entre todas as categorias de uso pesquisadas pelo instituto (veja quadro), que tiveram aumento médio acumulado de 0,8% nos últimos três meses do ano passado.
“O investimento tem sido a grande novidade nos dados de recuperação do Brasil nos dois últimos trimestres”, avalia o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.
Em 2009, a Formação Bruta de Capital Fixo, indicador que mede o volume de recursos aportados pelo setor privado e governo em obras e compra de máquinas e equipamentos, alcançou 17% de tudo o que é produzido no país, o Produto Interno Bruto (PIB). “Em 2010, deve chegar a 18,7%, que é exatamente o mesmo patamar que tínhamos no pré-crise”, prevê Bráulio Borges.
Em 2009, devido à maior crise econômica, houve uma inflexão do investimento público e, sobretudo, privado no Brasil. A instabilidade em economias de países desenvolvidos fez com que a indústria exportadora nacional enfrentasse perda de mercado, e, consequentemente, redução nas linhas de produção. Com máquinas paradas e funcionários de braços cruzados, houve excesso de ociosidade na indústria, fator preponderante para interrupção dos projetos de expansão de capacidade produtiva.
O reflexo foi sentido primeiro no desempenho na indústria de bens de capital, que despencou 23,4% entre novembro e dezembro de 2008. Daí para frente, o buraco foi aumentando, até chegar ao fundo do poço, em março de 2009. “Foi um período de interrupção de encomendas, sobretudo em razão da escassez de crédito às empresas, o que forçou essa brecada nos investimentos”, assinalou o economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco.
Retomada
A retomada da economia dali em diante foi gradual, impulsionada sobretudo pelo restabelecimento do crédito, pelas medidas de desonerações de tributos como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e pela manutenção dos empregos formais. A combinação foi uma massa salarial forte e uma onda de consumo que pôs fim ao elevado estoque da indústria, garantindo o retorno da produção e a diminuição da ociosidade das fábricas.
Os primeiros setores a sentirem o reflexo dessa retomada foram os ligados ao consumo de bens duráveis — geladeiras, televisores, automóveis. No que tocava à recuperação da indústria de bens de capital, entretanto, ainda havia timidez.
A despeito de as fábricas terem voltado a produzir, a ociosidade da indústria era muito grande. Foi em razão do aquecimento desses setores que começou a se pensar novamente em investimento no país. Mês a mês, a produção de bens de capital se expandiu, num ritmo médio 3,2% a cada mês. Ao fim dessa série, em dezembro, o crescimento acumulado entre março (pior mês) e dezembro (pico da produção) chegou a 25,6%.
Crise fica para trás
Ainda que tenha enfrentado uma forte recessão no início de 2009, o setor produtivo de máquinas e equipamentos segue em ritmo forte(1), e deve atingir seu patamar mais alto de produção neste primeiro semestre. Cálculos feitos com base em números do IBGE dão conta que, mantendo o ritmo de crescimento médio do último trimestre, a indústria de bens de capital deve superar o pré-crise em abril, zerando as perdas que o setor teve com a maior crise dos últimos 80 anos.
“O processo de retomada da indústria já foi instalado, e um dos setores que irá liderar esse crescimento é o de bens de capital”, projetou o economista Flávio Castelo Branco, gerente de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), na ocasião da divulgação da última sondagem industrial de 2009.
O desempenho da indústria de máquinas ainda está longe do de outros setores produtivos, uma vez que o resultado do primeiro depende necessariamente do desempenho do segundo. “Entretanto, podemos dizer que a retomada existe, e que é consistente”, avalia o economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco.
A economista do Banco Santander, Luíza Rodrigues, prefere demonstrar cautela. “O que ocorreu nesses meses (de alta) foi uma recuperação em razão de resultados muito ruins do início do ano passado. Isso pode até durar por algum tempo este ano, mas será um efeito de acomodação, e não de continuidade”, ressaltou. Para ela, a indústria de bens de capital ainda terá um longo caminho a percorrer até recuperar todos os prejuízos que teve com a crise. (DB)
1 - Salto
Entre setembro e outubro de 2009, o setor registrou crescimento de 4,8% e avançou 6,1% em novembro. No mês seguinte, a alta foi de 0,4% que, apesar de baixa, apresentou, em termos consolidados, o melhor dezembro desde 1981, conforme mostra levantamento do Correio em números do IBGE.
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