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Produtividade cresce três vezes mais que os salários na indústria
Os ritmos de crescimento, contudo, são diferentes.
A recuperação da indústria no pós-crise está sendo feita com mais eficiência e com aumento real dos rendimentos, que sobem impulsionados pela crescente demanda por mão de obra. Os ritmos de crescimento, contudo, são diferentes. Em 2010, até agosto, a produtividade da indústria aumentou três vezes mais que os salários. Enquanto a folha de pagamento real por trabalhador aumentou 2,9% nos primeiros oito meses deste ano sobre igual período de 2009, a produtividade na indústria de transformação subiu 9,5%, na mesma comparação. Na indústria extrativa, a diferença foi ainda maior: a produtividade cresceu 11,2% e os salários apenas 0,2%.
Os dados, obtidos a partir do cruzamento de duas pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda não refletem os acordos do setor metalúrgico em São Paulo, Curitiba e Camaçari (BA), que garantiram aumentos reais acima de 5% em algumas regiões. E também não refletem o peso dos salários convertidos em dólar. Em série do Banco Central, o custo unitário do salário em dólar está em um pico histórico - 12% acima do custo em 2009.
Os dados apresentam situações díspares. Há casos em que a produtividade cresceu mais de 18 pontos percentuais acima dos salários, como o setor de metalurgia básica - onde estão as siderúrgicas -, que obteve um aumento de produtividade de 15,9% no acumulado do ano até agosto, mas o salário médio por trabalhador encolheu 2,2% - a maior variação negativa entre 16 segmentos industriais pesquisados. Entre os fabricantes de produtos de metal, a distância entre produtividade e salários foi ainda maior: 23,5 pontos percentuais, uma vez que a folha de pagamento médio real diminuiu 0,6% e a produtividade cresceu 22,4%.
"Ainda estamos sob o efeito da recuperação pós-crise, uma vez que entre janeiro e agosto de 2009 a indústria passou pelo auge da crise mundial e o início da recuperação", afirma David Kupfer, coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade da UFRJ. O segmento de metalurgia, diz Kupfer, exemplifica esse processo. "Foi um dos setores que mais sofreram com as turbulências mundiais, com grandes siderúrgicas desligando alto-fornos diante do mergulho da demanda e das expectativas", diz o economista da UFRJ.
A ArcelorMittal Tubarão, produtora de aços planos da líder mundial ArcelorMittal, mantém seu alto-forno nº 2 desligado desde dezembro de 2008 - alto-forno desenvolvido pela empresa para exportar aço ao mercado europeu, onde a crise é mais grave. "A situação do setor, que ainda está abaixo do pré-crise, melhorou muito do fim de 2009 em diante, com forte retomada da produção", afirma Kupfer. Entre janeiro e agosto deste ano, a produção do setor de metalurgia básica aumentou 27%, três vezes mais que os 9,1% referentes ao incremento das horas pagas.
O expediente de aumentar a produção muitas vezes mais que o número de horas pagas foi quase unânime entre os 16 setores pesquisados. Em apenas quatro houve decréscimo nas horas pagas. Mesmo em segmentos onde a variação dos salários foi zero, como nos fabricantes de máquinas e equipamentos, o salto de 35% na produção foi construído com uma elevação de 8,5% nas horas pagas. No auge da crise ocorreu o contrário - enquanto a produção caiu 13% nos primeiros seis meses de 2009 em relação ao mesmo período de 2008, o número de horas pagas encolheu 5,8% na mesma comparação.
"A indústria passa por um crescimento virtuoso, uma vez que a produtividade está crescendo não porque o número de horas pagas está caindo, mas porque a produção está crescendo muito forte, mesmo com a alta nas horas pagas aos funcionários", diz Rogério Cesar de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvol-vimento Industrial (Iedi).
Para Souza, os dados de produtividade são "extremamente positivos", e indicam que há espaço para elevações de salários - respeitados, pondera ele, os riscos inflacionários. Para Kupfer, "os salários vão continuar crescendo e todos precisam se ajustar a isso. Trata-se de uma realidade distinta do câmbio, que precisa ser alterado para aumentar a competitividade da indústria".
Há casos, por outro lado, em que a folha de pagamento real por trabalhador atingiu crescimento muito próximo ao da produtividade, como no têxtil. Neste setor, a produtividade registrou alta de 1,6% nos primeiros oito meses de 2010 na comparação com igual período de 2009, e os salários subiram 1,5%. Esta não é uma tendência entre os setores intensivos em mão de obra, pois os fabricantes de calçados e couro tiveram aumento de 8,6% na produtividade e de apenas 0,2% na folha de pagamento.
Para Kupfer, os dois casos servem de "estudo de caso" para entender a pressão colocada sobre a indústria pela competição chinesa e pelo câmbio valorizado, que encarece as exportações e barateia os bens importados. "Os fabricantes de calçados estão no meio de uma reestruturação produtiva, em que há maior peso no design e maior valor agregado. Há casos de calçadistas exportando para a China, o que diz muito sobre essa reestruturação. Não é o caso do setor têxtil, onde a matéria-prima é mais cara e precisa ser importada, diferentemente do couro, facilmente encontrado no mercado interno", afirma Kupfer.
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