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Selic de um dígito em 2012 ainda é aposta da maioria dos analistas

Mas o ponto central, em sua análise, é o objetivo do governo brasileiro de crescer 3,5% este ano.

Fonte: Valor Econômico

A expectativa de que o Brasil voltará a ter uma taxa de juro de um dígito ainda este ano continua presente no cenário de boa parte dos analistas do mercado. Embora os juros futuros hoje indiquem uma taxa de 10% como piso para a Selic em 2012, a maioria dos especialistas consultados pelo Valor(23 de 29 entrevistados) ainda espera que a taxa recue para 9% ou 9,75%. Ou seja, que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduza o juro em mais três ou quatro doses de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões.

Para o encontro da próxima semana, marcado para os dias 17 e 18 de janeiro - quando o BC deve cortar a Selic em 0,5 ponto porcentual, segundo o consenso do mercado -, as atenções estarão todas voltadas para o conteúdo do comunicado e da ata do Copom. Para especialistas, somente a partir da leitura desses documentos será possível afinar as apostas e avaliar se a correção para cima dos juros futuros está correta. No final de dezembro, esses contratos eliminaram a aposta em uma redução da Selic para baixo de 10%, porque o Relatório de Inflação do quarto trimestre indicou uma preocupação maior do Banco Central com o cumprimento da meta de inflação. O entendimento foi que, apesar da crise internacional e dos seus efeitos sobre a atividade doméstica, a inflação ainda resistente poderia limitar o espaço para o prolongamento do alívio monetário.Quando se conversa com economistas, entretanto, é possível observar que essa ideia ainda não está totalmente contemplada nas projeções. E que seria preciso uma indicação mais clara do BC para que haja uma alteração consistente das previsões. Diante das incertezas sobre o desdobramento da crise internacional - ponto central dos argumentos do Copom para iniciar o atual ciclo de alívio monetário, em agosto -, boa parte dos especialistas mantém o mesmo cenário traçado no final de 2011.

"O clima no exterior está muito ruim, o que deve contribuir para a desaceleração da atividade doméstica, que já se observa em toda a economia", afirma o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves. "Não consigo ver uma melhora consistente nos Estados Unidos, a China segue em desaceleração, ainda não de forma dramática, e tudo isso vai afetar os termos de troca do Brasil", afirma o especialista, para quem a Selic deve cair para 9,5% em 2012 e ser reduzida mais um pouco no início de 2013, para 8,75%. Para ele, esse quadro de retração, que já ultrapassa os limites da indústria e começa a afetar também o setor de serviços, deve ter efeitos negativos sobre o mercado de trabalho - principal ponto de resistência da economia doméstica. "Não acredito que a taxa de desemprego vá ficar em 6% por muito tempo. Vai piorar em 2012."

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Consultores Associados, espera que a Selic caia ainda mais, para 9%, porque a inflação, ainda que elevada, está em trajetória declinante. Ele diz que isso já seria suficiente para o BC justificar a continuidade do ciclo de queda. Mas vai ajudar também, segundo Vale, a ideia de que o ajuste fiscal continuará sendo executado - o que, para o economista, será bem menos verdade este ano. "Mas o que anda valendo para o BC é mais o discurso e menos os fatos", afirma.

Já o banco ABC Brasil é um dos poucos que revisaram suas projeções depois da leitura do Relatório de Inflação e passou a trabalhar com mais dois cortes de 0,5 ponto da taxa Selic - o que levaria o juro para 10% em março deste ano. Antes, a projeção do banco era de uma Selic de 9,5% este ano, podendo cair até um pouco mais.

"Após o relatório e levando em conta a melhora do cenário externo e a perspectiva de retomada da economia doméstica - impulsionada pelo esforço do governo para estimular o consumo -, revisamos para cima nossa previsão", afirma o economista do ABC Brasil, Felipe França. Ele diz que os Estados Unidos começam a dar "sinal de vida" neste início de ano. Além disso, a China deve conceder estímulos para combater a desaceleração econômica.

Mas o ponto central, em sua análise, é o objetivo do governo brasileiro de crescer 3,5% este ano. "Para atingir essa meta, será preciso ter uma expansão trimestral de mais de 1%, em média, o que significaria um crescimento anualizado acima do potencial, ou seja, em um nível já inflacionário", diz França. Para ele, a ata do Copom, que explicará a decisão a ser tomada na próxima semana, poderá preparar o mercado para a aproximação do fim do ciclo de afrouxamento monetário.

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