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Sem saída, bancos seguem direção do governo
Ontem foi a vez dos dois bancos mais importantes desse cabo de guerra com os bancos públicos agirem.
Sob forte pressão do governo para reduzir os spreads e seguindo os bancos públicos que saíram na frente, um a um os grandes bancos privados anunciaram cortes de algumas de suas taxas. HSBC, sem ação em bolsa no país e sem contas a prestar a acionistas locais, agiu antes. O Santander veio na segunda-feira com um pacote restrito a pequenas e médias empresas. Ontem foi a vez dos dois bancos mais importantes desse cabo de guerra com os bancos públicos agirem. Primeiro Bradesco, seguido por Itaú Unibanco. De maneira geral, caíram as taxas mínimas que podem ser praticadas pe!os bancos e, em alguns casos, as máximas também baixaram. Mas os bancos continuam a trabalhar com um intervalo de taxas para cada linha de crédito, o que significa que de bate pronto é impossível auferir o efeito prático dos diversos anúncios.
A taxa que efetivamente será praticada pelos bancos é informação estratégica. A única certeza que se pode ter é que os clientes com melhor risco de crédito - e talvez contrapartidas a oferecer ao banco, como aplicações financeiras - é que terão acesso às taxas do piso. E não há nenhuma novidade nessa política. E ainda, as novas taxas mais baixas vem cercadas de amarras, como a exigência de migração da conta de um banco concorrente.
Se todo o barulho que se criou com essa sucessão de anúncios, cercados de muito marketing e frases de efeito, se converterá de fato em taxas médias mais convidativas e se, por fim, tudo isso levará a uma injeção de mais crédito na economia como deseja o governo, só o passar do tempo e os futuros relatórios do Banco Central e demonstrativos financeiros dos bancos mostrarão.
O fato é que, diante das pressões iniciais do governo, com direito a declarações fortes da presidente Dilma Rousseff considerando inadmissíveis os spreads atuais, os bancos privados se viram sem alternativas a não ser anunciar pacotes com alguma redução. Primeiro porque os bancos públicos atenderam ao chamado do governo e fizeram a sua parte com estardalhaço. E todos se lembram que os mesmos ganharam fatias de mercado no pós-crise de 2008 em cima do conservadorismo dos privados. Segundo porque a tentativa de negociar com o governo e ganhar tempo, pilotada pelo presidente da Febraban, Murilo Portugal, resultou desastrosa. Os próprios bancos admitem de forma velada que a primeira grande missão do primeiro presidente profissional da entidade não deu certo. Portugal complicou-se na interlocução com o governo, algo pouco desejável para um presidente da associação dos maiores bancos do país. Vale lembrar que sua passagem pelo governo pesou a favor de sua escolha para o cargo, imaginando-se que isso lhe daria bom trânsito em Brasília.
Polêmicas, frases de efeito e marketing à parte, ao que parece, a presidente Dilma e seu governo conseguiram que um primeiro passo fosse dado na direção que indicaram. O grande elefante dos altos spreads praticados no país se moveu alguns centímetros. Um relato real colhido ontem fornece um fragmento dessa história inacabada: Felipe recebe seu salário todos os meses em determinado banco privado. Nessa instituição, tem usado o cheque especial a um custo mensal de 10,29%. Insatisfeito e bombardeado pela publicidade dos bancos públicos, ontem ele entrou numa agência da Caixa e, depois de aguardar 20 minutos para falar com o demandado gerente, escutou uma proposta que lhe agradou. Se abrir uma conta lá, a taxa do seu cheque especial será 4,27% ao mês e, se fizer a portabilidade de sua conta salário, ampliando a segurança para o banco, a taxa irá a 3,51%.
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