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Dólar bate R$ 2,14 e BC atua três vezes

Ontem, a moeda fechou em queda de 0,52%, a R$ 2,120, após bater máxima de R$ 2,139.

Fonte: Valor Econômico

As três intervenções de ontem do Banco Central no câmbio foram incapazes de derrubar o dólar para abaixo de R$ 2,12, indicando demanda reprimida por moeda física. Agora, além do debate sobre até onde o BC permitirá que a divisa americana suba, aumentam especulações sobre quando a autoridade monetária voltará a vender no mercado à vista.

Ontem, a moeda fechou em queda de 0,52%, a R$ 2,120, após bater máxima de R$ 2,139. O BC anunciou, pela manhã, o primeiro leilão de swaps tradicionais do dia. Dos 40 mil contratos ofertados, todos para janeiro, colocou 28,2 mil, equivalentes a US$ 1,089 bilhão. O dólar passou a cair mas, mesmo assim, o BC voltou a intervir, anunciando segundo leilão de swaps tradicionais, no qual colocou todos os 20 mil contratos com vencimento em janeiro.

Com as duas operações, além de antecipar o vencimento de todos seus swaps reversos para janeiro, ainda assumiu posição vendida de US$ 211,3 milhões em swaps. A última vez que o BC promoveu dois leilões de swap tradicional foi há quatro anos, em 5 de dezembro de 2008.

Segundo Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora, o BC acreditava que ao não rolar os contratos de swap reverso que venceram ontem, poderia segurar a alta da moeda. Como mesmo após os dois leilões o dólar não cedeu, o mercado mostrou que quer moeda à vista, disse.

"Pela não rolagem e com as ofertas novas, o efeito de venda foi de US$ 3,59 bilhões, o que não é pouco, e o resultado não foi suficiente para impactar a taxa e trazê-la abaixo de R$ 2,10", disse. Para Nehme, as intervenções mostram a disposição do BC em trazer o dólar de volta para abaixo de R$ 2,10 que crê ser o teto da banda cambial.

O diretor de câmbio da Fair Corretora, Mario Battistel, também vê o teto da banda em R$ 2,10. Ele, porém, acredita que ela poderá permanecer um tempo mais longo acima desse patamar, enquanto o BC avalia a força da tendência de alta da moeda americana.

"Até o fim de dezembro, o BC pode ficar mais confortável em deixar subir para R$ 2,15, contato que a alta não seja no vazio, puramente especulativa", disse.

No meio da tarde, o BC interveio pela terceira vez, realizando leilão conjugado de venda e compra de dólares no valor de US$ 5 bilhões. Nessa operação, a autoridade monetária vende moeda à vista, para recomprá-la após prazo determinado - no caso, parte em janeiro e parte em fevereiro. Essa foi a primeira vez que o BC realizou esse tipo de operação desde dezembro do ano passado, quando não aceitou nenhuma proposta. O último leilão conjugado em que houve negócio foi em abril de 2009.

Segundo Nehme, o leilão conjugado tem como objetivo aliviar um pouco mais a pressão sobre a moeda, ao garantir parte da oferta de dólar físico necessário no período de fim de ano, quando aumenta o volume de remessas de lucros de empresas estrangeiras no país.

"Isso alivia, mas não me parece que vá resolver. O mercado precisa de dólares à vista para compensar um fluxo cambial menos favorável", disse. "O cenário sugere que o fluxo cambial piorou e que os bancos estão "pedindo" leilão de venda à vista."

Para os próximos dias, há grandes chances de o BC ser forçado a atuar no mercado à vista para saciar a demanda do mercado por moeda física e cobrir as remessas de lucros do período, disse Tony Volpon, diretor-executivo da Nomura Securities. Isso mesmo após as atuações, que demonstraram "responsabilidade" na condução da política cambial ao evitar uma alta mais acelerada do dólar.

"Se [o BC] deixar o câmbio caminhar muito rapidamente sem dar à economia real tempo para se reajustar, pode piorar muito nossos já debilitados níveis de investimento e crescimento", disse Volpon. "Caminhamos para R$ 2,30, mas vai ter que ser de forma gradual."

Para Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor de política monetária do BC, hoje economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, porém, o estímulo à atividade econômica por meio do real desvalorizado não é tão direto.

"As importações de bens de capital, que estão bastante correlacionadas ao investimento, acabam sendo dificultadas pela alta do dólar. E o investimento é justamente um dos elementos que têm travado o crescimento da economia", disse, lembrando os dados decepcionantes do PIB do terceiro trimestre, divulgados na sexta-feira.

A última vez que o BC inteveio três vezes num único dia no mercado foi em 27 de julho de 2011. Na ocasião a situação era inversa à de ontem e as atuações foram para elevar o preço do dólar.

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