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Capacidade de crescimento cai para até 2%
Cai capacidade de expansão da economia
Com menos investimentos, produtividade em queda e o mercado de trabalho que pode estar chegando ao limite, não é somente o crescimento econômico que frustra expectativas trimestre a trimestre. Cai também o chamado Produto Interno Bruto (PIB) potencial, conceito que leva em conta a capacidade produtiva total do país e mede quanto a economia poderia crescer sem aceleração de preços se essa capacidade fosse totalmente utilizada - quando a expansão efetiva é maior do que esse potencial, a inflação tende a subir.
Difícil de ser mensurado na economia real, o PIB potencial é uma medida controversa e complicada de ser apurada com precisão. Sua queda, porém, seria uma das razões para a perda de fôlego que a economia brasileira tem mostrado e para a inflação alta, além de também fomentar projeções de que, nos próximos anos, esse crescimento pode ser ainda menor.
As estimativas do PIB potencial, que eram superiores a 4,5% antes de 2010, vêm caindo ano a ano. Em 2013, diversos economistas consultados pelo Valor revisaram os cálculos para percentuais que chegam a 2%. Em relatório publicado em maio, o Fundo Monetário Internacional (FMI), que em 2012 falava de potencial de expansão de 3,75% a 4,25% para o Brasil - a economia cresceu apenas 0,9% no ano passado -, reduziu essa previsão para uma banda de 2,2% a 3%.
"Em um cenário de demanda mais fraca, alguns entendem que o país está crescendo abaixo de seu potencial, mas, na nossa visão, é o potencial que também está caindo", disse Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria. Para ela, o PIB potencial do país está hoje na faixa de 2,5% "ou menos".
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, calcula que a medida já tenha caído a 2% em 2013. "Há toda uma questão estrutural por trás do PIB potencial que vem de um investimento cada vez menor, e a produtividade da economia em queda. Isso joga o potencial para baixo", explicou. "O PIB potencial vem caindo já há algum tempo e deve cair ainda mais nos próximos anos, o que dá grandes chances de um crescimento ainda menor em 2014 e 2015."
Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Espírito Santo (BES), enxerga margem para o pontencial um pouco maior, de 2,5% a 3%, mas também em declínio. "O PIB potencial leva em consideração os fatores de produção do país: capital e trabalho. É preciso ter produtividade nos dois. Nesse contexto, a queda nas estimativas do PIB potencial faz todo o sentido, pois estamos vindo de um período longo de baixos investimentos, e com um mercado de trabalho apertado."
A formação bruta de capital fixo (FCBF), medida das Contas Nacionais para a evolução dos investimentos, teve um aumento de 4,6% no primeiro trimestre deste ano, comparado ao final de 2012. Não foi, no entanto, suficiente para reverter um ano inteiro de quedas e, nos 12 meses, o acumulado é ainda de retração de 2,8%. "Estamos colhendo em 2013 o fato de não se ter investido no passado", aponta Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores.
O mercado de trabalho, que até pouco tempo ainda tinha relativa folga, se esgota: em 2010, quando o PIB teve a alta recorde de 7,5%, a taxa média de desemprego foi de 6,7%, segundo dados do IBGE, e essa proporção seguiu caindo ano a ano até chegar aos 5,4% em que estacionou nos últimos meses, sua mínima histórica. Para os economistas, é daí que vem a grande restrição hoje, piorada por taxas de educação que não melhoram a qualidade do trabalho e mesmo pelo crescimento demográfico, que está cada vez menor e não colabora mais para aumentar o contingente.
"O país só conseguiria baixar a inflação atual se crescesse entre 0,5% e 1% no ano", diz Vale, da MB. "Para voltar ao centro da meta, seria necessário uma recessão." A inflação, medida pelo IPCA, bateu 6,7% no acumulado em 12 meses até junho, acima portanto do limite de 6,5% estipulado pelo governo e já há três anos longe da meta ideal, de 4,5%: foi 5,9% em 2010, 6,5% em 2011 e 5,8% em 2012. Isso mesmo com o crescimento baixo: 2,7% em 2011 e apenas 0,9% em 2012. Para este ano, as projeções de mercado giram entre 2% e 2,5%.
Márcio Garcia, professor do departamento de economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e pesquisador do Massachusetts Institute of Technology (MIT), destaca não só a falta de investimento e de mão de obra, mas principalmente a perda de produtividade em ambos. "A produtividade total dos fatores está caindo, que é basicamente o ganho de produção que se tem sem aumentar o capital ou o trabalho. Para que isso cresça são necessárias as políticas corretas e uma agenda de reformas, que hoje está parada", disse Garcia, citando gargalos estruturais como infraestura, o tributário e a alta burocracia.
Segundo Alessandra, da Tendências, cálculos da consultoria apontam que, depois de crescer a uma média de 1,3% na década passada, a produtividade no país caiu 2,1%, misto da falta de investimento, da falta de qualificação da mão de obra já escassa e até mesmo do ano de baixa produção que foi 2012, o que também derruba os índices de produtividade.
Há aqueles, no entanto, que não veem um PIB potencial tão reprimido, e seriam outros fatores as causas para o crescimento baixo e a inflação alta. "Não foi o PIB potencial que reduziu, foi o PIB observado e o esperado", disse o economista Pedro Rossi, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Não vejo limite estrutural para o crescimento brasileiro, vejo problema de coordenação de expectativa e do investimento. A economia pode crescer 5% em 2015 sem gerar pressão inflacionária", disse.
A visão de Borges, da LCA, é parecida. Seus cálculos apontam para um potencial de crescimento um pouco mais otimista que a média, hoje na faixa de 3,5% a 4% - embora aquém dos 4% a 4,5% com que trabalhava há um ano. "O potencial caiu por uma questão demográfica. A população cresce menos e, com ela, a oferta de mão de obra também. Mas não acho que despencou para menos de 3%. O PIB potencial muda lentamente."
Nesse contexto, explica Borges, o país cresce abaixo do que poderia em grande parte por conta do mercado externo, que não entra no cálculo do potencial, mas tem tirado vários pontos do PIB real, com exportações em baixa e importações em alta. Para ele, a inflação vem mais por fatores pontuais que estruturais, caso da seca recorde nos Estados Unidos, no meio do ano passado, e da seca também recorde no Nordeste, em 2013. Os dois eventos contribuiram para a disparada nos preços dos alimentos e, com eles, da inflação total.
Além de elevar e qualificar seus trabalhadores, as saídas para o país retomar seu potencial de crescimento passam também por ampliar a produção e a capacidade de suas fábricas e estabelecimentos comerciais, ou simplesmente por aumentar a produtividade, o que exige investimento maior também em tecnologia e em qualidade.
"A medida do PIB potencial não é uma coisa que muda de um trimestre para o outro. Envolve fatores de longo prazo", explica Serrano. "Com um crescimento potencial menor, o país cresce menos."
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