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Aumentar produtividade é desafio em todos os segmentos da economia brasileira
Há cerca de um ano, Vicente Manzione participou de uma palestra que mudaria os rumos da Particolare, empresa que ele preside e que produz sorvetes e sobremesas para bares, restaurantes e hotéis. A palestra abordou as tecnologias que caracterizam a indústria 4.0 e fizeram o empresário perceber que poderia implantar mudanças graduais para modernizar sua companhia.
Na quinta reportagem, a série especial do site Poder 360, com apoio da CNI, Caminhos da Indústria – desafios e oportunidade, mostra que falta investimento em educação e tecnologia e destaca que o SENAI prepara para indústria 4.0
Há cerca de um ano, Vicente Manzione participou de uma palestra que mudaria os rumos da Particolare, empresa que ele preside e que produz sorvetes e sobremesas para bares, restaurantes e hotéis. A palestra abordou as tecnologias que caracterizam a indústria 4.0 e fizeram o empresário perceber que poderia implantar mudanças graduais para modernizar sua companhia.
“Eu imaginava que teria que destruir a fábrica inteira e construir uma nova para me adaptar, mas vi que a mudança, na verdade, é um caminho, que é necessário passar por etapas”, afirma Manzione.
A 1ª etapa foi um diagnóstico dos processos que poderiam ser aperfeiçoados na Particolare. O mapeamento mostrou que seria possível aumentar em até 20% a produtividade de uma das linhas de fornos da empresa, e Manzione decidiu investir nas adaptações. “O resultado foi excelente, e o ganho de produtividade que tivemos foi de cerca de 40%”, comemora.
Os números animaram o empresário a continuar buscando a modernização da companhia, e ele agora vai instalar sensores nas máquinas para mensurar o funcionamento de cada uma delas, medida que vai permitir a adequação dos planos de produção e também a capacitação dos funcionários que operam os equipamentos.
A Particolare é uma das empresas que estão participando do programa Indústria Paulista mais Competitiva, iniciativa do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) para aumentar a produtividade de companhias do Estado. O diagnóstico sobre as ações que podem ser implementadas para otimizar os processos produtivos é gratuito e pode ser solicitado via internet.
O programa trabalha com 3 pilares: manufatura enxuta, eficiência energética e preparação para a indústria 4.0. Os empresários que decidem contratar os serviços de consultoria só pagam integralmente pelas horas contratadas caso os ganhos de produtividade fiquem acima de 20%, de acordo com indicadores estabelecidos no começo do projeto.
“Se esse percentual não for atingindo, o empresário paga apenas metade das nossas horas de trabalho. Mas nunca ocorreu de ficarmos abaixo dos 20%. A gente inclusive avisa as empresas quando o diagnóstico indica que o ganhos serão de cerca de 15%, para que elas possam decidir se têm interesse”, explica Ricardo Terra, diretor do SENAI de São Paulo.
Criado em agosto de 2019, o programa estimula que empresas, principalmente de médio e de pequeno porte, adotem tecnologias como big data e inteligência artificial para otimizar processos produtivos. “Não adianta digitalizar as grandes corporações, se a cadeia de fornecedores não passar também por essas mudanças. Então começamos a pensar em como levar isso para empresas menores”, complementa Terra.
O programa já atendeu 524 empresas de diversos segmentos. Além do alimentício, como é o caso da Particolare, contrataram os serviços de consultoria companhias de cerâmica, celulose e papel, química, metalúrgicas, entre outras. São Paulo é o estado mais competitivo do país, mas o programa do Senai busca amenizar um problema que, na avaliação da economista Fernanda De Negri, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), é horizontal e generalizado. Fernanda é organizadora de dois estudos amplos sobre a produtividade no país, um problema que afeta todos os setores da economia brasileira.
“Há uma discussão de que a produtividade do país é baixa porque a nossa produção é concentrada no setor de serviços, que é um setor que possui baixa produtividade. E alguns defendem que, se a gente tivesse maior participação da indústria na economia, nossa produtividade seria maior. Mas o que constatamos é que, se compararmos qualquer setor da economia brasileira com os equivalentes em países desenvolvidos, nossos níveis de produtividades são mais baixos. Não é um problema de composição, a nossa produtividade é baixa em todos os setores.”
Testes feitos pelo Ipea comprovaram a horizontalidade do problema. Para mostrar que a questão não é de composição, pesquisadores fizeram suposições em que o peso da indústria na economia brasileira se aproximasse do peso que o segmento possui na Alemanha, um país em que o setor de máquinas e de equipamentos é especialmente forte. “A nossa produtividade aumentaria se a gente mudasse a composição, mas se, em vez disso, a gente mantivesse a nossa distribuição atual e fizesse com que todos os setores tivessem o mesmo nível de produtividade média da Alemanha, os ganhos de produtividade seriam muito maiores.”
No ranking global de competitividade de 2019, o Brasil ocupa apenas a 71ª posição:
As causas da baixa produtividade do país são conhecidas e resolvê-las é tarefa complexa. A qualidade do sistema educacional é uma delas, e os resultados mais recentes do país no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) indicam o tamanho do desafio. “É difícil pensar que um país vai ter ganhos de produtividade se não consegue educar adequadamente as pessoas”, afirma a pesquisadora do Ipea.
Fernanda também aponta os baixos investimentos em ciência e tecnologia e o ambiente de negócios ruim como obstáculos para que as empresas brasileiras consigam produzir mais com menos recursos, sejam eles horas de trabalho ou pessoas.
“Temos ainda questões de infraestrutura, e não estou falando apenas dessa infraestrutura dos anos 1970, que engloba estradas, portos e saneamento básico, mas principalmente de infraestrutura de telecomunicações. Estou falando de inovações como o 5G, por exemplo. O atraso do país em adotar esse tipo de tecnologia gera também um atraso na utilização dessa estrutura de telecomunicação para a produção industrial, e isso afeta diretamente nossos índices de produtividade.”
MAS E A TAL DE INSÚTRIA 4.0? – A demora do Brasil em modernizar a infraestrutura de telecomunicações faz com que o país entre atrasado na chamada quarta revolução industrial ou indústria 4.0, um conceito que não se limita à atividade produtiva em si, envolve ainda inovações que vão revolucionar a forma como organizamos as cidades (smart cities) e como nos comunicamos –com outras pessoas e também com máquinas. Pensando apenas em inovações em sistemas produtivos, a indústria 4.0 é a utilização de ferramentas como inteligência artificial, big data, blockchain, internet das coisas, clouding, entre outras, para aumentar a produtividade de uma determinada empresa. O termo foi utilizado pela 1ª vez no começo da década, em 2011, quando o governo alemão divulgou uma série de medidas para modernizar a indústria do país.
A conexão entre máquinas, sistemas e pessoas permite que os gestores tenham maior controle da produção, evitando falhas, diminuindo custos e riscos e com menor impacto ambiental. Também permite que a produção seja customizada de acordo com as demandas dos consumidores. Gerente de vendas de cloud da IBM Brasil, Thiago Viola explica no vídeo abaixo como a companhia tem desenvolvidos soluções sob medidas para empresas brasileiras.
O setor de construção civil não é o primeiro que se pensa quando falamos em indústria 4.0, mas as inovações citadas acima também estão revolucionando a forma de se construir casas e prédios. A construção industrializada, que consiste em fabricar módulos fora do canteiro de obra e levá-los já prontos, é exemplo disso.
A metodologia não é nova, já é usada em países como Estados Unidos há mais de uma década, mas a disseminação no Brasil tem ajudado a reduzir custos com logística e com o gerenciamento de resíduos. A construção da plataforma Modelo de Informação da Construção, mais conhecida pela sigla em inglês BIM, também vai facilitar a projeção de gastos de uma obra e o planejamento de ações de manutenção.
“O BIM é uma grande biblioteca, que permite que tenhamos acesso a todos os objetos que vemos numa obra – fios, portas, cerâmicas, esquadrias, lâmpadas etc. Na hora em que o projetista ou arquiteto for projetar, ele acessa a biblioteca, seleciona os objetos e coloca no projeto. A plataforma faz uma modelagem que mostra quanto o projeto vai custar e quanto vai demorar, justamente a aderência ao cronograma e orçamento que o governo precisa”, explica Rodrigo Navarro, presidente da Associação Brasileira da Indústria dos Materiais de Construção (Abramat).
A plataforma é gerenciada pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), e o acesso é gratuito, tanto para fazer upload de informações quanto para acessar os dados registrados. A preocupação com a qualidade e com a conformidade técnica das informações registradas na biblioteca é central na avaliação da Abramat: “O nosso produto guarda uma particularidade. Quando há um produto com problema ou que oferece algum risco em outros setores, é possível fazer um recall, retirar do mercado. No caso do material de construção, quando se detecta que um tubo de PVC que está dentro da obra ou que o fio utilizado não é conforme, como vamos retirar de um prédio já construído? Por isso, tem que ser feito um trabalho muito forte antes dele ser utilizado, antes dele chegar no mercado e evitar que ele se propague”.
A série Caminhos da Indústria – desafios e oportunidades é produzida pelo Poder360, com apoio da CNI.
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