Caso aprovada, a PEC afetaria de forma mais direta o comércio, indústria e serviços que funcionam de forma ininterrupta ou atividades consideradas essenciais
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Inflação abocanha parte do lucro de bares e restaurantes
Setor tem sido afetado por diversas altas de preços, mas, no momento, o maior peso vem do aumento do leite e derivados
Os empresários do setor de bares e restaurantes continuam absorvendo a inflação sem conseguir repassar todo o aumento de custos ao cardápio. O resultado é que 67% deles estão trabalhando com menores margens de lucro e 21% contabilizam prejuízos. As conclusões são da pesquisa realizada pela Abrasel-MG com 306 donos de bares e restaurantes entre os dias 21 e 28 de junho.
O setor tem sido impactado por uma série de aumentos. Neste momento, o que mais está desequilibrando as contas é a alta do leite e seus derivados, que se reflete no preço de um produto importante para bares e restaurantes: a muçarela, que aumentou mais de 100% nos últimos 60 dias.
“Dobrou o preço de um único insumo, o que é sentido especialmente nas pizzarias. Mas não tem como repassar integralmente ao cardápio. O dono do bar fica ‘entre a cruz e a caldeirinha’, porque se ele aumenta o preço, ele corre o risco de perder o cliente. E se não aumentar, ele com certeza vai trabalhar no prejuízo”, pontua o presidente da Abrasel-MG, Matheus Daniel.
A nova pesquisa da entidade também revelou que 46% dos empresários entrevistados tiveram lucro em maio (oscilação positiva de um ponto percentual em relação a abril, quando o índice era de 45%), enquanto 21% trabalharam com prejuízo (em abril, foram 20%) e 33% ficaram em equilíbrio.
Entre o grupo que operou no prejuízo, 66% citaram a queda nas vendas do mês como um fator que contribuiu para o resultado negativo. Entre outros fatores citados estão a redução do número de clientes (60%), aumento dos principais insumos, como alimentos e bebidas (56%), dívidas com empréstimos bancários (46%) e pendências com impostos (34%).
Para o presidente da Abrasel-MG, a pesquisa deixa claro o quanto os empreendedores ainda sofrem com os efeitos inflacionários. “Apesar de observarmos uma queda de 10 pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, (na última pesquisa da entidade, divulgada em maio, 77% dos entrevistados afirmaram não ter conseguido reajustar seus preços acima da inflação), ainda é alto o número de empresários que estão reféns da oscilação predatória dos preços. Como os nossos negócios vivem basicamente desses insumos que vêm aumentando dia após dia, o lucro, inevitavelmente, não é percebido, mesmo que estejamos vivenciando um momento de plena retomada”.
De acordo com o levantamento, 41% dos entrevistados fizeram reajustes, mas abaixo da inflação oficial de junho. O IPCA do mês na Grande Belo Horizonte, divulgado pelo IBGE, foi de 0,83% – com um aumento na alimentação fora do domicílio de 1,61%. O número, no entanto, não sinaliza um repasse efetivo dos custos, garante Matheus Daniel. Em março, por exemplo, a inflação da alimentação fora do lar ficou em 0,62%, enquanto a de alimentos e bebidas chegou a 2,06%.
“É preciso esperar. É muito cedo para falar que o setor está começando a repassar os custos. O que a gente tem em mãos hoje não é essa realidade, ou seja, não é por conta de um mês em que os preços no setor aumentaram acima do IPCA que se pode dizer que os restaurantes estão repassando. É prematuro esse entendimento”, afirma.
A redução do ICMS, anunciada pelo governador Romeu Zema no dia 1º de julho, não se reflete diretamente em benefícios para o setor. “Mas vai ajudar indiretamente, porque vai deixar de encarecer o frete para os produtos chegarem até os restaurantes. Mas o gás de cozinha, por exemplo, não sofreu queda, já que o ICMS, no seu caso, já era de 18%”, aponta o presidente da Abrasel-MG. (Veja matéria sobre a alta do leite na pág. 8)
Endividamento assombra setor
Outro fantasma que assombra o setor de bares e restaurantes é o do endividamento. O levantamento da Abrasel aponta que 14,2% do faturamento dos empresários do setor estão comprometidos com a quitação de dívidas acumuladas pelas empresas durante a crise sanitária.
Quando lançada em maio de 2020, a linha de crédito Pronampe tinha prazo de pagamento de 48 meses e juros de 1,25% ao ano, mais taxa Selic, na época de 3% ao ano. Em agosto de 2020, baixou a 2% ao ano. Isso fazia com que os créditos concedidos tivessem juros totais de 3,25% ao ano, o equivalente a 0,27% ao mês, taxa muito atrativa para as empresas que se valeram do empréstimo.
A partir de março de 2021, porém, o Copom começou a elevar a Selic para tentar controlar a inflação. A taxa fechou o ano em 9,25% e, em junho deste ano, atingiu 13,25% ao ano. “Quem pegou crédito em meados de 2020 pensando que iria pagar juros de 3,5% ao ano já está pagando, hoje, juros de 14,5%, e o Pronampe, que veio com a proposta de ajudar o empresário na pandemia, hoje está causando um grande problema”, lamenta o presidente da Abrasel-MG, Matheus Daniel.
“Nossa recomendação é tentar aumentar a produtividade ao máximo, fazer mais com menos. E aproveitar os benefícios: os associados têm taxas especiais de cartão, no voucher-refeição, descontos na conta de luz. Recentemente, a Abrasel fechou uma parceria para venda do óleo usado, o que pode aliviar um pouco as contas”, sugere.
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