Caso aprovada, a PEC afetaria de forma mais direta o comércio, indústria e serviços que funcionam de forma ininterrupta ou atividades consideradas essenciais
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Com pandemia, prazo para recuperação de empresa mais que dobra
Processo que levava oito meses, em média, se estendeu para dois anos. Alta de custos, falta de insumos e crédito caro fragilizaram as empresas, de acordo com a Corporate Consulting
Pesquisa recente realizada pela Corporate Consulting com 230 companhias revela um cenário preocupante para os setores da indústria, do comércio, dos serviços e dos transportes no país.
Para 52% delas, o faturamento caiu pela metade em relação a 2019, para 37%, o endividamento aumentou e, para 84%, é preciso emprestar dinheiro para reforçar o caixa.
Participaram do levantamento empresas com faturamento anual entre R$ 60 milhões e R$ 400 milhões, que, juntas, empregam pouco mais de 100 mil pessoas.
“Com a pandemia, a situação mudou muito em razão da alta de custos, da falta de insumos e de previsibilidade do negócio”, diz Luís Alberto de Paiva, CEO da Corporate Consulting.
Margens insuficientes para manter a atividade, passivos que comprometem o capital de giro, estoques reduzidos e dificuldade para renegociar prazos de pagamento são alguns dos principais problemas enfrentados hoje pelos empresários, de acordo com a pesquisa.
A Corporate Consulting trabalha diretamente na reestruturação de 28 companhias de vários setores. Todas elas, diz Paiva, estão com as finanças mais frágeis do que antes da pandemia.
“A oferta de crédito está bem mais restrita e o custo do dinheiro, três vezes maior do que há um ano”, afirma. Cenário nada favorável para quem quer manter ou expandir um negócio.
Uma empresa que oferece garantias para uma instituição financeira, de acordo com ele, paga juros de 1,8% a 2% ao mês. Aquela que não tem o que oferecer paga 14% ao mês.
“A discrepância nas taxas hoje é muito grande. Aí a empresa descapitalizada começa a operar com prejuízo, fica sem dinheiro para pagar funcionários, tributos”, diz.
De acordo com ele, diante deste cenário, as empresas tendem a suspender pagamento de impostos, reduzir quadro de funcionários, cortar salários e deixar de pagar bancos e credores.
MAIS PRAZO PARA REESTRUTURAÇÃO
A fragilidade das empresas chegou a tal ponto, diz ele, que, com a pandemia, a recuperação de uma companhia endividada, que levava oito meses, em média, passou para dois anos.
“Antes, havia um prazo para injetar recursos nas empresas, acertar custos, precificar e dava para planejar quando o produto voltaria a ser rentável.”
Todo este processo está agora comprometido, de acordo com ele, em razão da disparada da inflação, da falta de matérias-primas, do alto preço dos combustíveis e do crédito mais caro.
Paiva diz que conversa quase diariamente com representantes de instituições financeiras que não escodem mais a preocupação com a inadimplência generalizada de pessoas jurídicas.
As empresas estão com dificuldade até mesmo para pagar empréstimos realizados com juros de 1% ao mês, como do FGI (Fundo Garantidor para Investimentos), do BNDES.
Em abril, 6,11 milhões de empresas estavam inadimplentes no país, quase 200 mil a mais do que no mesmo período do ano passado, de acordo com a Serasa Experian.
O número é o mais alto desde abril de 2020 (6,14 milhões).
“Hoje, há um sucateamento da indústria nacional. As margens de lucro que, no passado, eram de 15% a 20% em alguns setores, hoje são pífias, de 2% a 3%.”
Os prazos para alongamento de dívida, com carência de um ano, para empresas que não utilizam o recurso da recuperação judicial, diz ele, são de cinco a seis anos, em média.
Para as empresas que estão em recuperação judicial, os prazos para pagamento de dívidas, com até dois anos de carência, são de até 20 anos, com deságio entre 50% e 70%.
TEMPOS MAIS DIFÍCEIS
Boanerges Ramos Freire, presidente da Boanerges & Cia, especializada em serviços financeiros, diz que, se a água já estava na altura do nariz das empresas, agora já chegou à cabeça.
A situação das companhias, diz ele, é a seguinte. “Depois de ter nadado muito na pandemia e chegado à praia achando que ia descansar, encontraram leões prontos para comê-las”.
Quem tem ajuda de uma boia, diz ele, eventualmente pode sobreviver, mas, infelizmente, tempos mais difíceis para as empresas ainda estão por vir neste semestre.
“A inflação subiu demais no mundo todo por vários motivos, em razão de toda emissão de dinheiro para atender à pandemia e de problemas nas cadeias de produção.”
A expectativa de recessão, diz Freire, leva o empresário a investir menos. “Com isso, inflação e juros sobem, aumentam os riscos e, quem estava no limite, não consegue mais sobreviver.”
DE OLHO NO CAIXA
De acordo com ele, se o caixa da empresa não estiver bem controlado, isto é, se o empresário não tiver bem claro tudo o que paga e tudo o que recebe no mês, dificilmente vai sobreviver.
Alongar prazos de pagamento e antecipar recebimentos pode ajudar a reforçar o caixa, diz ele, assim como vender parte dos ativos, recorrer a crédito bancário ou até a amigos e familiares.
“Abrir capital agora não adianta. Quem fez isso no ano passado não se deu bem”, afirma.
De acordo com ele, esta fase ruim para as empresas não deve acabar com as eleições. “Ainda não há clareza de qual será a política econômica do país. É um período de muitas incertezas.”
Apesar das perspectivas pouco favoráveis, Paiva diz que os empresários entendem que, num cenário político sem rupturas e com carga tributária menor, o país pode voltar a crescer.
Fonte: Diário do Comércio
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