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Mães empreendedoras dão receita de como equilibrar trabalho e maternidade

Entre tantas funções que são exercidas no dia a dia de "ser mãe", algumas mulheres também "concebem um segundo filho", com as responsabilidades das empresas

Ter uma empresa é como ter um filho: exige cuidado, atenção constante e dedicação para vê-la crescer e florescer.

Neste domingo (14), Dia das Mães, mulheres que encaram o desafio da maternidade real e de empreender revelam como conseguem equilibrar trabalho e a criação dos filhos com criatividade e jogo de cintura.

Entre tantas funções exercidas no dia a dia de "ser mãe", empreendedoras que vivem no Espírito Santo também "concebem um segundo filho", com as responsabilidades das empresas.

Segundo dados divulgados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com base no programa Rede Mulher Empreendedora (RME), uma plataforma de apoio ao empreendedorismo, 68% das donas de negócio do Brasil começaram a empreender depois de terem filhos.

Quando os dados são referentes ao Espírito Santo, é demonstrado que, entre as empreendedoras, 54% têm idades entre 25 e 44 anos. Além disso, 47% são chefes de família.

Um dos exemplos é a empresária Karol Lanza, de 37 anos, mãe de "dois filhos": do Cauã, de 11 anos, e da loja de semijoias Lenzi, que funciona online e tem um showroom em Jardim Camburi, em Vitória.

A ideia de empreender começou quando ela tinha um outro emprego e começou a comprar algumas peças para revender.

"Comecei a buscar algo para fazer e fui para as semijoias. No início foi um grande desafio, pois tudo era muito novidade: tanto o ato de ser mãe, porque o Cauã tinha apenas 1 aninho. Fazia o atendimento de casa em casa e depois abri a minha própria loja, no ano de 2018", relata.

Durante o processo, segundo Karol, foram enfrentados desafios, com a necessidade de se desdobrar em funções duplas. As palavras "remanejamento" e "replanejamento" estão sempre presentes no vocabulário.

"Quando o Cauã requer uma atenção especial, eu tenho que replanejar a agenda da loja. O desafio é a autoavaliação e o manejo do tempo", ressalta a empresária.

Atualmente, no dia a dia da loja, a empreendedora conta com a ajuda de uma funcionária. Entretanto, em casa, como mãe solo, os desafios são presentes. "Quando Cauã era mais novo, eu contava com a ajuda da minha mãe. Hoje em dia, como ele está maior, já entende as situações e me ajuda", destaca.

Como mãe e empreendedora que vive na pele os desafios de gerir um negócio e criar um filho, Karol deixa um conselho para outras mulheres que têm vontade de abrir uma empresa e trabalhar por conta própria: comece.

"Os desafios vão sempre existir, independente da situação, do trabalho ou do momento do empreendimento. A mulher que tem espírito empreendedor deve aprender a dosar o tempo. Dar um passo de cada vez", afirma.

Ideia de empreender vem com a maternidade

Doce na vida e na cozinha, Jhenyfer Dias Monteit, de 38 anos, é proprietária da loja Jheny Donuts, que fica em Laranjeiras, na Serra. A confeiteira divide seus dias entre confeitos, glacê colorido e muito açúcar com os três filhos, com 18, 8 e 2 anos.

"Exatamente por ter escolhido ser mãe e pela minha filha mais velha necessitar de atenção em tempo integral, saí de uma multinacional e optei por estar perto dos meus filhos. Mas, ao mesmo tempo, também pensei em gerar renda e ajudar em casa com meus donuts", explica.

O negócio começou de maneira despretensiosa. A confeiteira pesquisou o ramo e passou a se especializar. "Temos 1 ano de trabalho com o delivery e seis meses desde a inauguração da loja física", destaca Jheny.

Para a empreendedora, o desafio diário é saber conciliar a administração de um negócio, a atenção para os três filhos e ainda ter tempo para si mesma. E ela destaca alguns pontos que são fundamentais: organizar o tempo, a gestão das tarefas, além de ter muita resiliência e capacidade de se adaptar às mudanças.

"Antes de tudo respiro fundo e lembro que não sou perfeita, não consigo dar conta de tudo o tempo todo, mas sempre tento dar o meu melhor", ressalta.

Além disso, Jheny destaca que é necessário aproveitar a jornada como empreendedora e seguir os sonhos com calma e paciência.

"Temos que nos amar antes de tudo. Durante muito tempo, principalmente na divisão de tarefas, renunciamos parte do nosso tempo. É necessário fazer o caminho de volta", afirma.

Correr atrás dos sonhos

Já o dia a dia da fotógrafa de bebês recém-nascidos (newborn) e personal trainer Fabiana Louzada, de 45 anos, é marcado pela rotina tripla. Formada em Educação Física, a profissional trabalhava apenas em academias, dando aulas de natação e hidroginástica.

Entretanto, pensando no futuro, ela começou a conciliar aulas com uma segunda paixão: a fotografia. "Estava com muita energia e fiquei pensando em uma pessoa mais velha pulando no jumping. Por isso, conciliei os trabalhos com a fotografia, que sempre gostei", contou.

Fabiana explica que depois que o filho Leonardo, de 12 anos, nasceu, entrou no curso de fotografia. A escolha da especialização pelo ensaio newborn veio com a alta da profissão no momento.

"Comecei a dar as minhas aulas e pouco a pouco a fotografar aniversários e casamentos. Dessa forma, fui aumentando minha cartela de clientes", explica a fotógrafa e personal trainer.

Com o aumento no número de clientes, ela criou o estúdio Fabi Louzada Fotografia em casa, no ano de 2015, em Vitória.

A partir dos trabalhos e ensaios fotográficos, começou a fotografar mais do que dar aulas, mas nunca largou as profissões. "Tiro mais fotos em épocas festivas, como Natal e Ano Novo. Mesmo muito feliz com a maternidade e o trabalho, enfrento grandes desafios no dia a dia".

Dentre os desafios listados pela empreendedora estão a falta de suporte para as crianças quando não está em casa e a correria do dia a dia.

"Sou mãe solo, tem que ter muita conversa. Mas ainda bem que meu filho é bem compreensivo com a minha profissão. Sempre falo que temos que correr atrás dos nossos sonhos como mulher e nunca desistir", explica.

Falta de rede de apoio é um problema, diz economista

A economista Melissa Modeneze explica que muitas mulheres sentem dificuldades e receio ao se aventurarem pelo mundo do empreendedorismo por falta de rede de apoio.

"Esse é um ponto crucial. Tendo uma rede de apoio, a mulher consegue estar no mercado de trabalho de acordo com o perfil, seja CLT, seja PJ".

Além disso, a economista ressalta que ainda é presente nas empresas uma cultura que valoriza o trabalho masculino, mesmo quando a mulher desempenha a mesma função e tem o mesmo cargo no ambiente corporativo.

"Percebemos que as mulheres são mais cuidadosas quanto ao futuro. Elas estão preocupadas em serem donas da sua própria renda e isso tem aumentado a busca pelo empreendedorismo", ressalta Melissa Modeneze.

Dentre alguns desafios encontrados pelas mulheres que empreendem estão o gerenciamento do tempo e a conciliação de outras atividades que elas têm durante o dia, sendo esposa, mãe ou filha.

"A sociedade praticamente impõe que a mulher tem que dar conta de tudo, mas é uma injustiça! Elas são seres humanos!".

A economista pontua vantagens no empreendedorismo feminino. "Temos a flexibilidade do trabalho, podendo gerir o tempo, colocar prioridades, permear a semana de maneira mais saudável e até mesmo receber valores maiores", destaca.

Além disso, ela ressalta que, a partir de capacitações e mais informação, as mulheres empreendedoras conseguem expandir o seu espaço e visão de mundo nos negócios.

"Busque informação sempre. Às vezes, a mulher tem pessoas próximas que não entendem o que ela gostaria de desenvolver ou produzir. A sociedade acaba perdendo um talento porque ela não conseguiu apoio. Por isso, aconselho que a empreendedora se permita escutar ideias e profissionais de sucesso, para desabrochar seu talento", orienta.

Sebrae-ES: maioria atua por conta própria

Dados divulgados pelo Sebrae-ES revelam que 86,5% das empreendedoras capixabas atuam por conta própria, com mais de 13% delas sendo empregadoras.

E os três setores em que elas mais se destacam são: serviços (53,4%), com destaque para alojamento e alimentação, somando 24.697 empreendedoras nesse ramo; comércio (23,7%), com 46.195; e agropecuária (12%), com 23.384 mulheres trabalhando na área.

Já uma pesquisa realizada em todo o Brasil apontou que mais de 90% das mulheres com filhos têm responsabilidade ao lidar com o orçamento familiar. O recorte faz parte do estudo Relevância das Mulheres nas Finanças das Famílias Brasileiras, realizado pela Serasa/Opinion Box, em fevereiro de 2023.

O levantamento também mostra que 48% das mães solteiras com pelo menos um filho não têm companhia para dividir as finanças e são, portanto, as responsáveis por arcar com os gastos familiares.

No caso de mães divorciadas e viúvas, os números são ainda maiores, atingindo 65% e 57%, respectivamente.

Embora este domingo seja de celebração para as mães, o caminho de mulheres com filhos, que são empreendedoras e que precisam trabalhar duro para garantir o sustento da família é longo e cheio de desafios que não são supridos pelas atuais políticas públicas de acesso a creches.

E como apontou a economista Melissa Modeneze, contar com uma rede de apoio é fundamental para que o empreendedorismo feminino cresça e floresça no Brasil.

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